terça-feira, 4 de novembro de 2008

Parole...

Desci do carro e a primeira onda de vento gelado me invadiu eriçando meus pêlos do braço. Uma noite silenciosa demais para o meu espírito que gritava, mas mesmo assim uma bonita noite esbranquiçada.

Respirei fundo e comecei a andar, mas tão devagar que quem me olhasse, mesmo de longe, veria que eu não queria chegar ao lugar de objetivo. E não queria mesmo, como não queria...

Minha alma ansiava por diversão, por algo que a fizesse esquecer ao menos por aquela noite tudo o que a fazia sofrer.

Andava sem me importar com o horário, sem me importar por estar sozinha, queria ser encontrada, para cada carro que passava eu olhava esperando encontrar algum rosto amigo. O caminho parecia curto demais.

O vento continuava a soprar, eu cada vez me afundando mais em pensamentos, o desejo aumentando mais e mais, agora misturado com um pouco do desespero ao constatar que faltavam poucos metros e ninguém ainda tinha me encontrado. Nenhum amigo para dizer: “que bom te encontrar, estou precisando conversar, talvez somente um pouco de vinho ou quem sabe querendo um simples abraço”.

Os amigos de verdade estavam há certo tempo escassos. Fechada em minha concha poucos me conheciam mesmo, tinha virado algum tipo de profundeza. Os passos agora eram ainda mais vagarosos e pesados, a esperança de ser encontrada por alguém quase não deixava mais vestígios.

Lentamente abri o portão o vento mais uma vez me tocou, dessa vez fazendo voltar um pouco à realidade que me cercava. Entrei, fechei o portão. Deste ponto em diante os passos já eram automáticos, não mais comandados por mim, subi as escadas, abri a porta, quando cheguei em meu quarto percebi que ninguém me havia encontrado e também ninguém mais me esperava. Era unicamente a solidão que me estendia os braços novamente.

Rapidamente liguei o rádio, estava na hora de parar de ouvir meus pensamentos. A música italiana tocou alta enchendo todo o quarto, ”parole, parole, parole”...


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