terça-feira, 28 de julho de 2009

Esse é um texto sobre meu pai. Não consegui lhe atribuir um título. Foi um sonho que tentei colocar em palavras....


Foi no final de uma tarde cinzenta e tranqüila, os laranjais carregados de frutos, cães e gatos numa estranha harmonia. Ele havia acabado de tomar seu costumeiro café da tarde, me fez carinho, acho que devia estar meio atrasado porque num parava de olhar no punho esquerdo para ver as horas. Fazia algum tempo que não preparávamos a pipa para alguém partir, mas ele parecia acostumado com aquilo tudo, além do mais estava preparado e com pressa.
Estendemos a calda pela escada de casa. Eu segurava em uma das extremidades posteriores. Ela permanecia com ele no final das escadas, e por alguns instantes os dois pareciam longe demais, não sei o que ela lhe dizia, se o ajudava nos últimos preparativos ou apenas lhe dava os últimos conselhos. A calda era colorida com triângulos de seda e muitas linhas para amarrar tudo numa única e grande calda de pipa, que apesar de frágil demais era um bocado bonita e bem feita.
Não sei dizer quanto tempo se passou antes da rajada de vento vir. Fechei meus olhos, um medo terrível me invadiu, percebi que havia chegado à hora de soltar a ponta da calda que eu segurava com tanta força e ao mesmo tempo cuidado.
Ele voou, sei que não olhou para trás, que não sentia medo mesmo quando a grande calda enroscou nas árvores e nos telhados. Foi embora voando como se fizesse isso todos os dias, e eu chorei porque sabia que aquilo nunca havia acontecido antes, e que nunca mais iria acontecer